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ADD para além das quadras e pistas

Ações que vão além do paradesporto de alto rendimento

Apresentação e vivência. Basquete em cadeira de rodas no Colégio St. Nicholas.

A Associação Desportiva para Deficientes foi fundada em 1996 por Steven Dubner e Eliane Miada, respectivamente hoje Presidente do Conselho Técnico e Presidente do Conselho Institucional. Motivada por um cerne desde a sua criação, a Associação sempre ambicionou o impacto positivo, a transformação na vida da pessoa com deficiência. O paradesporto sendo seu viés, sua metodologia. Um catalisador para mudanças de hábitos e perspectivas que trouxessem maiores oportunidades e dignidade para o deficiente. Expandido seus horizontes no social, no cidadão, no profissional, para além das quadras e pistas.

Atualmente, com projetos de alto rendimento, passando pela formação em modalidades e chegando à base, até mesmo à promoção de atividades que estimulem a sociabilidade, temos dois projetos com atuação em diversos polos que são focais para crianças e jovens. O Projeto de Iniciação ao Esporte Adaptado, atuando majoritariamente no Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro, São Paulo, atende 132 infantojuvenis. O Escola de Esporte Adaptado, atuante em São Caetano do Sul, Heliópolis e no Carrão, atende no total 151 alunos. Ambos os projetos com faixas etárias de 6 a 26 anos, que juntos totalizam 283 crianças e jovens com deficiências físicas, intelectuais, visuais e indivíduos com autismo.

Importante ressaltar que, sendo o autismo uma característica não correspondente a uma forma de deficiência, esse grupo minoritário não possui um paralelo esportivo em qualquer esfera. Por tanto, não existindo “Jogos da Pessoa com Autismo”, o que quase sempre faz com que em instituições o autista fique literalmente escanteado. Contudo, a ADD abraça o desafio de promover essa abrangência, buscando através destes projetos integrar a pessoa do espectro autista nas mais variadas atividades e experiências. Das desportivas, às sociais, passando pelas artísticas e lúdicas.

Um exemplo claro sobre uma trajetória que tangenciou as diferentes propostas de projetos da Associação é o, agora atleta com 18 anos, Kevin Colares. Seu primeiro contato com a ADD veio através de uma busca online por atividades físicas para deficientes, encontrando assim a Associação. Kevin é cadeirante, lesão medular T7, e entrou para o projeto de Iniciação ao Esporte Adaptado bem novo.


Kevin Colares em uma das aulas do projeto de Iniciação ao Esporte Adaptado.

Comecei no projeto de iniciação, ainda criança, com pessoas da mesma idade que a minha, na época eu tinha 9 anos. Com as outras crianças pratiquei exercícios relacionados ao basquete. E foi uma progressão natural, de um projeto para o outro até chegar ao Wheels”, conta Kevin sobre sua trajetória, galgando as turmas basquete em cadeira de rodas, BCR. Hoje em dia, integrando o ADD Magic Wheels, equipe de alto rendimento da segunda divisão do BCR na ADD.

As mudanças que, com certeza, foram frutos do esporte foram meu foco, vontade e responsabilidade com minhas tarefas, e também a vontade de sempre tentar evoluir como um todo”, Colares concluí sobre o impacto do esporte nos outros aspectos da sua vida.

Outro fator determinante para os profissionais da ADD é o impacto que o trabalho com a pessoa com deficiência exerce sobre o núcleo familiar da mesma. Desde a percepção de maior autonomia por parte dos responsáveis quanto ao menor deficiente, até a quebra de paradigmas e estigmas que rodeiam a realidade de vida dos deficientes.


Caminhada de Férias ADD, parque Ibirapuera.

A importância da atuação da família como complemento, contribui bastante para a amplificação do aluno como ser individual e pensante, nos estímulos e parcerias para acoplar a busca do conhecimento. O lado afetivo atua e interfere como um balanceador de emoções e comportamentos atuantes na formação pessoal e de prática social e convivência com demais pessoas”, explica Shirley da Cruz, psicopedagoga da ADD com quase duas décadas de experiência com o ensino de crianças e jovens.

A psicopedagogia é uma área que estuda a relação entre aprendizagem e a mente humana. Este ramo busca entender dificuldades de aprendizagem e melhorar os processos de assimilação humana. Na ADD, Shirley desempenha o auxílio para com alunos de seis a 30 anos de idade, com defasagem de aprendizagem, com diferentes níveis cognitivos e desafios variados. Desafios estes que como os que ocorrem desde o início da alfabetização, como o processo de desenvolvimento, conhecimento e letramento, até a capacitação da leitura e compreensão.

Mãe e aluno em aula no Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro.

Os alunos atendidos apresentam patologias como síndrome de down, deficiência intelectual (DI), transtorno do espectro autista (TEA), entre outras. Sendo elaboradas atividades em registro escrito e também vivenciadas com jogos pedagógicos, direcionados para cada um, de acordo com sua precisão. Além de atender os responsáveis, analisando e reportando os progressos alcançados. Os avanços mais positivos nos alunos tendem a ser na cognição, na fala, no comportamento, tendo em vista as dificuldades, dentro das possibilidades de cada um.

Para a psicopedagoga, a participação da família tem uma influência muito clara, assim como no que repercute. “A importância da atuação da família como complemento, contribui bastante para a amplificação do aluno como ser individual e pensante, nos estímulos e parcerias para acoplar a busca do conhecimento. O lado afetivo atua e interfere como um balanceador de emoções e comportamentos atuantes na formação pessoal e de prática social e convivência com demais pessoas”, pontua Shirley.

Com o quantitativo atual de crianças e jovens, estimamos que toda a esfera profissional da Associação, resultando em seu trabalho para com estes alunos, impacte de forma direta um total aproximado de 1.132 pessoas, tomando como média núcleos familiares com quatro indivíduos além do aluno.

E mesmo no esporte de alto rendimento, aspectos que vão além dos resultados, dos pódios, das medalhas e das competições internacionais se fazem presentes na vida dos atletas. É o que conta Roger Jacintho, competidor de 24 anos da ADD nas provas de pista do atletismo. “O esporte me ajudou a amadurecer e a crescer. Hoje eu moro sozinho, tenho a minha própria casa, meus compromissos, minhas responsabilidades. O esporte fez com que eu, hoje, não dependesse mais da minha família. Hoje eu tenho tudo de forma independente.”


Atletas Thales Martins, Vinicius Rodrigues e Roger Jacintho, de 24 anos, durante competição de atletismo.

Roger é natural do Rio Grande do Sul, onde se destacou nas corridas das Paralimíadas Escolares, chamando atenção do Comitê Paralímpico. Sendo biamputado, precisou passar por uma correção de coto, um processo cirúrgico complexo para se adequar melhor ao par de próteses com lâminas de corrida. Vindo treinar no estado de São Paulo, obteve o apoio da ADD, inclusive para ter onde viver, ficando alojado na sede da Associação por quase dois anos durante o início daquela que estava sendo uma nova e desafiadora etapa.

Promovendo amparo, incentivo e adequação, seja para a criança atendida por um dos projetos de função social, seja para o atleta que hoje compete em nível nacional, ou até internacional, a Associação Desportiva para Deficientes busca integrar o lado profissional, atleta, ao lado humano do indivíduo. Sedimentando importantes partes da vida fora das quadras e pistas para que a pessoa com deficiência possa obter, dentro e fora destas, toda a autonomia, todo o sucesso, toda a realização pessoal.

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